A cidade de São Mateus do Sul
A breve história de pequeno vilarejo que se transformou em uma das mais importantes cidades do sul do Paraná.
Dos Bandeirantes aos Ingleses com um sonho
A história da nossa cidade começa ainda em 1769, quando 25 homens que iam em direção a Tibagi, chefiados pelo Tenente Bruno da Costa Filgueiras, chefe da Quarta Expedição, passaram por nossas terras, que serviam como pouso e setor de apoio aos bandeirantes lançados por Dom Luiz de Souza Botelho e Mourão, governador da capitania de São Paulo, com objetivo de conquistar Guarapuava.
Antigo mapa de 1908 já exibe a cidade de São Mateus, grande parte do estado de Santa Catarina ainda fazia parte do Paraná.
Muito tempo depois, em abril de 1873, o Imperador Dom Pedro II autorizou Charles Kitto, um inglês, a criar uma colônia para imigrantes ingleses às margens do Rio Iguaçu, região que englobava de Porto Amazonas até São Mateus do Sul. Em um mapa da “Kittolândia”, que data de 1876, podemos observar os ribeirões do “Emboque”, “Cachoeira”, “Canoa” e “Caminho de S. Matheus”.
Nas terras inglesas, circulavam propagandas de “um novo assentamento inglês na província do Paraná, no Sul do Brasil, no qual, mecânicos, trabalhadores agrícolas e outros podem, por fim, esperar encontrar aquela súbita riqueza e felicidade sem nuvens que douram os devaneios das almas simples” (Fonte: The Spectator, 1876). Porém, não demorou muito para os imigrantes perceberem que a terra prometida tinham muito mais desafios que eles poderiam imaginar.
Colonização das terras às margens do iguaçu
Passou-se um tempo até que as terras são-mateuenses recebessem uma nova tentativa de colonização, que se deu a partir de 1885 com a chegada de Rodolfo Wolff e imigrações espanhola, alemã e checa no início de 1890, já o contingente polonês chegou em peso no final do mesmo ano, compostos de mais de duas mil famílias, liderados por Sebastião Edmundo Woss Saporski, estabelecendo-se nas colônias Iguaçu, Cachoeira, Canoas, Taquaral, Água Branca e Rio Claro (atualmente Mallet).
A colonização polonesa é, até os dias de hoje, essencial na história de São Mateus do Sul, pois grande parte dos habitantes são descendentes de poloneses e preservam os costumes dos povos originários destas terras. Os imigrantes vindos da Polônia buscavam melhores oportunidades e fugiam das dificuldades em seu país de origem, enquanto o governo brasileiro incentivava a imigração para desenvolver áreas desabitadas.
Naquele tempo, a atividade mais praticada era a agricultura, com o cultivo de trigo, centeio, batata e outros produtos típicos da cultura polonesa. Além disso, preservaram sua língua, religião e festas tradicionais, além de construírem igrejas e escolas.
Desenvolvimento trazido a vapor
No início do século XX, a navegação a vapor transformou “São Matheus” no porto e centro comercial mais importante da região até a década de 1950.
A economia da região era baseada na agricultura e extrativismo, especialmente da erva-mate e madeira, essas atividades econômicas foram muito importantes na época e um dos fatores que levou a sua emancipação.
Vapor sendo carregado com erva-mate no porto de São Mateus do Sul, onde hoje é localizado o Parque do Iguaçu onde é possível visitar o Pery, o último dos vapores bem preservados da época.
As então colônias foram elevadas a município pela lei de 2 de abril de 1908, que foi efetivada em 21 de setembro do mesmo ano, tornando-se uma cidade apenas 4 anos depois, em 1912. Já a nomenclatura “São Mateus do Sul” foi estabelecida apenas em 1943 por meio de um Decreto Estadual.
A descoberta do ouro negro
Enquanto isso, no começo da década de 30, um ex-fundiário são-bentense falido da Fundição Mueller que trabalhava como taxista em Curitiba, veio fazer uma corrida para São Mateus e ouviu falar do xisto, pelo qual se interessou imediatamente. Fez as malas e assim nossa cidade recebia, ninguém mais, ninguém menos, que Roberto Angewitz e sua família. O Perna-de-Pau, como era chamado por usar o acessório de mesmo nome, não tinha estudo, mas com muito conhecimento que adquiriu nos livros, abriu uma usina, e assim, se tornou o pioneiro da produção de combustíveis no Brasil e, mesmo em plena Segunda Guerra Mundial, abastecia o mercado da região. Seu empreendimento sofreu com dois incêndios e 10 anos depois, em 1942, foi estatizado durante o governo Getúlio Vargas, do qual recebeu apenas 200 contos de réis. Angewitz acabou falecendo em 1947, novamente falido e vítima dos gases da usina que respirava sem proteção.
Anos depois, em 1959, a Petrobras vem para São Mateus do Sul com a Superintendência da Industrialização do Xisto – SIX para continuar o legado do Perna-de-Pau, que recebeu até uma estátua em sua homenagem na unidade. A empresa trouxe muito desenvolvimento para a cidade durante seus 63 anos de operação que, com certeza, ficarão marcados na história são-mateuense.
Na imagem um foto de uma usina de petróleo rudimentar extraído do xisto com galões de petróleo bruto e derivados como óleo diesel, querosene e gasolina.
Riqueza que vem da terra
Selo que identifica os produtos da indicação geográfica da região São Matheus Com uma produção de 48 mil toneladas no ano de 2021, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), São Mateus do Sul destaca-se na produção nacional da erva-mate com 7800 hectares destinados ao plantio. O reconhecimento oficial da produção diferenciada da matéria-prima do chimarrão veio em 10 de dezembro de 2016, quando o Instituto Nacional de Propriedade Industrial (INPI) publicou a concessão do registro da Indicação Geográfica (IG) São Matheus, que reconhece a qualidade única da erva-mate são-mateuense.
A IG São Matheus também engloba os municípios de Antônio Olinto, Rio Azul, Mallet, Rebouças e São João do Triunfo.
Além disso, São Mateus do Sul tem destaque em outras culturas na região, sendo muito reconhecida pela produção de batata, cebola, soja, caqui, uvas, fumo, mimosa, entre outros.
As origens do nosso povo acolhedor
Outro ponto muito importante para a cidade é sua descendência polonesa. Apesar de muitas outras etnias terem vindo para a cidade ao longo dos anos, grande parte da população ainda exibe os famosos sobrenomes repletos de consoantes e complexos de pronunciar.
Também é possível apreciar essa cultura no cotidiano são-mateuense, já que diversas casas contam com detalhes em sua arquitetura típica, com os telhados bem angulados e seus lambrequins.
Inclusive, o Grupo Folclórico Karolinka é oriundo da cidade, e mantém viva a história e as tradições polonesas por meio da culinária e danças típicas, organizando anualmente a Polski Smaki, que é umas das grandes festas da região.
Nosso município também é muito conhecido por organizar grandes eventos, como o AgroSamas, a Festa da Colheita, o Festival do Chopp e Batata, Samas Bier, Natal Ouro Verde, Gastrosamas, entre outros, que movimentam a economia da cidade trazendo artistas e diversas atrações para região, tudo combinado com muita comida boa e alto astral que só o nosso povo hospitaleiro é capaz de proporcionar.
Nos dias atuais
São Mateus do Sul tem, nos dias de hoje, mais de 45 mil habitantes, que têm orgulho de fazer parte de uma cidade que não se permitiu parar no tempo, estando em constante evolução e buscando cada vez mais destaque na região e no estado.
Fontes:
https://www.ibge.gov.br/
http://www.gazetainformativa.com.br/
https://www.saomateusdosul.pr.gov.br/
https://petrobras.com.br/pt/
https://igmathe.com.br/
Acervo Casa da Memória Padre Bauer